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IAGS oficializa genocídio em Gaza
Especialistas em genocídio apontam que ações israelenses atendem aos critérios legais internacionais para o crime
Internacional
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■   Bernardo Cahue, 01/09/2025

A Associação Internacional de Estudiosos do Genocídio (IAGS), principal organização acadêmica mundial dedicada ao estudo de massacres em massa, aprovou uma resolução histórica afirmando que Israel está cometendo genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza. A decisão foi tomada por maioria absoluta de 86% dos votantes entre seus cerca de 500 membros especializados.

Segundo o documento de três páginas aprovado no final de agosto de 2025, as políticas e ações militares israelenses em Gaza atendem à definição legal de genocídio estabelecida no Artigo 2º da Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 1948. A convenção, elaborada após os horrores do Holocausto, define genocídio como atos "cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".

A resolução detalha que o governo israelense tem se envolvido em crimes sistemáticos e generalizados contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio, incluindo:

  • Ataques indiscriminados e deliberados contra civis e infraestrutura civil (hospitais, residências, edifícios comerciais)
  • Privação deliberada de alimentos, água, medicamentos e eletricidade essenciais à sobrevivência
  • Destruição de escolas, universidades, bibliotecas, museus e arquivos essenciais à identidade coletiva palestina
  • Violência sexual e tortura
  • Deslocamento forçado de quase todos os 2,3 milhões de palestinos de Gaza

Os estudiosos destacaram especialmente o impacto nas crianças, com mais de 50 mil mortas ou feridas pelas ações israelenses, afetando a capacidade de regeneração do grupo palestino. A associação também citou declarações de autoridades israelenses caracterizando os palestinos como um todo como inimigos e "animais humanos", além de afirmarem a intenção de infligir "dano máximo" a Gaza.

A IAGS reconheceu que os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 - que mataram aproximadamente 1.200 israelenses e levaram ao sequestro de 251 reféns - constituíram crimes internacionais. No entanto, afirmou que a resposta israelense não foi direcionada apenas contra o grupo militante, mas sim contra toda a população de Gaza.

O governo israelense condenou veementemente a resolução, classificando-a como "vergonhosa" e "baseada inteiramente na campanha de mentiras do Hamas". Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que a declaração "é um constrangimento para a profissão jurídica e para qualquer padrão acadêmico" e acusou a associação de não verificar adequadamente as informações.

Esta não é a primeira vez que a IAGS, fundada em 1994 no contexto do genocídio de Ruanda, emite resoluções sobre crimes em curso. A associação já havia reconhecido como genocídio o tratamento da China à minoria uigur e a repressão em Mianmar contra os rohingya.

Além do pronunciamento dos estudiosos, Israel enfrenta um processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ) movido pela África do Sul em 2023, com apoio do Brasil e outras nações, que acusa o país de violar a Convenção sobre Genocídio. O tribunal concedeu a Israel até janeiro de 2026 para apresentar sua defesa.

Organizações de direitos humanos, incluindo Anistia Internacional, Human Rights Watch e dois grupos israelenses (B'Tselem e Médicos pelos Direitos Humanos-Israel), também classificaram a ação em Gaza como genocídio.

Enquanto isso, a situação humanitária em Gaza permanece catastrófica. Dados do Ministério da Saúde de Gaza indicam que mais de 63.557 palestinos morreram desde o início do conflito, e a fome atingiu o patamar mais grave na classificação de segurança alimentar.

Com informações de: Agência Brasil, BBC, Deutsche Welle, Folha de S.Paulo, O Globo, RFI