Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
O PIX no centro da guerra comercial entre Brasil-EUA
Investigação norte-americana mira sistema financeiro brasileiro e transforma política interna em moeda de troca internacional, expondo tensões geopolíticas e uma até então inacreditável posição de vantagem ao Brasil e ao povo brasileiro
Internacional
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSP5e8kg8QQGfG2JtTgPXBswEAw7t7PQiQuukCU8qaOqbG-G79qKEXWJSJL&s=10
■   Bernardo Cahue, 16/07/2025

A abertura de uma investigação comercial pelos Estados Unidos contra o Brasil, anunciada em 15 de julho de 2025 pelo Escritório do Representante de Comércio, transcende disputas econômicas convencionais. Baseada na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, a ação coloca sob escrutínio o sistema de pagamentos instantâneos PIX, políticas ambientais, regulação digital e até o comércio popular da Rua 25 de Março em São Paulo, acusando o Brasil de adotar práticas desleais que prejudicariam empresas e trabalhadores norte-americanos. O relatório preliminar aponta o PIX como instrumento de concorrência desleal por seu caráter estatal, argumentando que o sistema desenvolvido pelo Banco Central brasileiro distorce o mercado em detrimento de empresas dos EUA como Visa e Mastercard, especialmente após a suspensão do WhatsApp Pay em 2020, semanas antes do lançamento oficial do PIX. Essa ofensiva ocorre paralelamente ao anúncio de sobretaxas de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos EUA a partir de 1º de agosto, medida que Trump explicitamente vinculou ao processo judicial contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, qualificando-o como caça às bruxas em carta direta ao presidente Lula.

O PIX como Campo de Batalha Geopolítico

O sistema financeiro brasileiro transformou-se em alvo estratégico na guerra comercial. O relatório do USTR acusa o governo brasileiro de favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo, referindo-se explicitamente ao PIX, cujo sucesso espetacular, com 63,8 bilhões de transações em 2024, superando a soma de cartões, boletos e TEDs, ameaçou o domínio de gigantes norte-americanas. O timing da suspensão do WhatsApp Pay pelo Banco Central e Cade em junho de 2020, seguido pelo lançamento do PIX em novembro daquele ano, é apresentado como evidência de protecionismo digital. Além disso, o desenvolvimento de funcionalidades como PIX Automático para contas recorrentes e PIX Parcelado ampliam a competição com cartões de crédito, setor dominado por empresas norte-americanas. Para analistas, o ataque ao PIX reflete preocupações mais profundas: seu potencial como modelo para sistemas de pagamento transnacionais alternativos ao dólar, especialmente no âmbito dos BRICS, que desenvolvem sua Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços.

Arquitetura Financeira Soberana: Do PIX ao Sistema BRICS

O sistema financeiro alternativo do BRICS opera em três eixos: pagamentos instantâneos via NBD, liquidação em moedas locais e garantias multilaterais contra riscos cambiais. Com sede em Xangai, o banco desenvolve uma plataforma que conectará sistemas nacionais como o PIX - responsável por 82% das transações brasileiras em 2024 - numa rede blindada a pressões geopolíticas. Este avanço responde à vulnerabilidade exposta pelo ciberataque de julho de 2025, quando hackers drenaram R$800 milhões do sistema através de um provedor terceirizado, revelando falhas na segurança periférica, mas também a resiliência do núcleo operacional gerenciado pelo Banco Central. Ataques como este aceleraram a adoção de protocolos de cibersegurança integrados entre os BRICS, incluindo autenticação multifatorial e cooperação em inteligência contra ameaças transnacionais .

Lesa-Pátria Organizada: O Eixo Bolsonaro-Trump

Enquanto o Brasil liderava avanços soberanos no BRICS, Eduardo Bolsonaro articulava nos EUA uma campanha contra as instituições nacionais. Em entrevista à CNN, o deputado licenciado admitiu ter "contribuído" para a retaliação de Trump, incluindo a tarifa de 50% sobre exportações brasileiras anunciada em 9 de julho. Na carta que justificou a medida, Trump classificou o processo contra Jair Bolsonaro no STF como "caça às bruxas", exigindo sua interrupção imediata - interferência direta no judiciário brasileiro que especialistas classificam como "esquizofrenia político-institucional" sem precedentes. Esta triangulação transformou-se em ação judicial: a PGR investiga Eduardo Bolsonaro por crime de lesa-pátria, com pedido de bloqueio de bens e contas, enquanto o PSOL protocolou ação por "atentado à soberania nacional". As provas incluem registros de reuniões com republicanos e publicações em redes sociais agradecendo a Trump por "novos ataques" ao Brasil.

Guerra Híbrida Contra o PIX: Retaliação Comercial e Vulnerabilidade Sistêmica

A investigação do Escritório de Comércio dos EUA (USTR) contra o PIX, aberta em 15 de julho sob a Lei de Comércio de 1974, expõe a conexão entre ataques jurídicos, comerciais e cibernéticos. O relatório acusa o sistema brasileiro de concorrência desleal por seu caráter público, ignorando que sua eficiência - 63,8 bilhões de transações em 2024 - decorre de investimentos nacionais em inclusão financeira. O timing é revelador: a ofensiva coincide com o anúncio do PIX Internacional para 2026 e o ciberataque que explorou brechas em empresas terceirizadas homologadas pelo BC. Para analistas, a investigação é uma tentativa de proteger monopólios de Visa e Mastercard, cuja participação no mercado brasileiro encolheu 32% após a criação do PIX.

Resistência Institucional: PGR Ignora Chantagem e Avança com Denúncia

Em resposta às pressões, a Procuradoria-Geral da República apresentou pedido de condenação de 43 anos contra Jair Bolsonaro por chefiar organização criminosa golpista. O documento de 517 páginas detalia como o ex-presidente coordenou ataques ao sistema eleitoral e a invasão de 8 de janeiro, com provas documentais que incluem gravações e planilhas de financiamento. O ministro Alexandre de Moraes incluiu novas publicações de Eduardo Bolsonaro no inquérito, interpretando-as como tentativa de "embaraçar o andamento processual". A postura reflete consenso no judiciário: 72% dos brasileiros consideram injustificada a tarifa de Trump, e 50,3% a veem como ameaça à soberania, conforme pesquisa Atlas/Bloomberg.

Soberania Financeira como Projeto de Estado

A crise expôs a bifurcação estratégica do Brasil: de um lado, a integração ao BRICS com sistemas financeiros soberanos; de outro, a subordinação a interesses geopolíticos norte-americanos. O sucesso do PIX como ferramenta de inclusão (140 milhões de usuários) e a aceleração do sistema de pagamentos do BRICS são respostas estruturais a ataques híbridos. Com 79% dos brasileiros prevendo impacto negativo das tarifas e a Embraer estimando perdas de R$20 billares até 2030, a resistência institucional ao lawfare internacional torna-se questão de sobrevivência nacional. O caminho está claro: ampliar a interoperabilidade com o NBD, criminalizar articulações extraterritoriais contra a democracia e transformar o PIX em âncora da nova ordem financeira multipolar.

Impactos Judiciais Domésticos: A Espiral de Radicalização

Longe de ajudar Bolsonaro, a pressão internacional tende a intensificar sua vulnerabilidade jurídica. Procuradores do caso golpista interpretam as articulações de Eduardo Bolsonaro com o governo Trump, incluindo ameaças explícitas de sanções, como possível novo indício de conspiração internacional para desestabilizar instituições brasileiras. O pedido da PGR por 43 anos de prisão já inclui acusações de associação golpista e obstrução de justiça, e conexões com esforços para incitar retaliações econômicas podem alimentar teses de crime contra a soberania nacional. Paralelamente, a fuga de Eduardo Bolsonaro para os EUA e suas declarações contra autoridades brasileiras, como ao chamar Tarcísio de Freitas de subserviente por buscar diálogo com americanos, isolam politicamente o clã, enfraquecendo sua capacidade de articulação doméstica. Para o Ministério Público, cada nova ameaça de Trump reforça a narrativa de que Bolsonaro mantém canais paralelos para pressionar o Estado brasileiro, potencializando os pedidos de prisão preventiva.

Com informações de CNN, Zero Hora, Infomoney, O Globo, Estado de Minas, Gazeta do Povo e CBN.■