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Subsídio a montadora chinesa expõe atraso tecnológico da indústria nacional corrente
Enquanto governo sinaliza apoio à transição elétrica com fábrica da BYD, montadoras tradicionais lutam por prorrogação de benefícios para veículos a combustão e operam com parques industriais defasados
Economia
Foto: https://clickpetroleoegas.com.br/wp-content/uploads/2025/02/a-photo-of-electric-vehicles-from-stella_39oXj2KaSWq01-GWYXUszQ_mRudlAUKSemn5hAw0GNh6A.jpeg
■   Bernardo Cahue, 30/09/2025

Uma forte reação nas redes sociais acusa o Governo Federal de “traição” ao apoiar financeiramente a instalação de uma fábrica da chinesa BYD no país, em contraste com o fim gradual de subsídios às montadoras tradicionais como Chevrolet, Volkswagen e Toyota. A polêmica, no entanto, esconde uma discussão mais profunda: o caráter evolutivo da tecnologia automotiva e a obsolescência que ameaça as fábricas que não se adaptarem à era dos energéticos renováveis.

A raiz do conflito está na Reforma Tributária. GM, Volkswagen e Toyota manifestaram-se publicamente contra a prorrogação, até 2032, de incentivos fiscais para montadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste que produzem veículos a combustão. As empresas argumentam que a medida “é um retrocesso sob os aspectos tecnológico e ambiental” e desestimula os investimentos em veículos de energia limpa. Na prática, o benefício favorece principalmente a Stellantis (dona das marcas Fiat e Jeep), que possui um polo industrial em Goiana (PE), enquanto as concorrentes possuem fábricas concentradas nas regiões Sul e Sudeste.

Enquanto isso, a BYD avança com um investimento de R$ 5,5 bilhões para uma fábrica de carros elétricos e híbridos em Camaçari (BA). O contraste é evidente: de um lado, um grupo que pressiona para manter benefícios para tecnologias de combustão; de outro, uma nova concorrente que chega ao país focada exclusivamente na propulsão elétrica.

Parque Industrial Brasileiro Enfrenta Crise de Obsolescência

O debate sobre os subsídios ocorre em um cenário onde a indústria brasileira sofre com equipamentos antigos e tecnologia defasada. Um levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que:

  • Apenas 2% das empresas industriais no Brasil utilizam máquinas com até 2,5 anos de uso.
  • Cerca de 28% das empresas operam com equipamentos que têm entre 10 e 15 anos.
  • O setor de biocombustíveis, crucial para a transição energética, possui os equipamentos mais defasados, com idade média de 20 anos.

Essa obsolescência tecnológica tem consequências diretas: menos produtividade, maior consumo de energia e emissões elevadas de gases de efeito estufa. Máquinas antigas quebram com mais frequência, paralisam a produção e têm custos de manutenção mais altos, colocando a indústria nacional em desvantagem frente aos concorrentes globais.

A Transição Energética e o Futuro da Montagem

A evolução tecnológica no setor automotivo é inexorável. Globalmente, a indústria avança para a integração de inteligência artificial (IA) para otimizar a produção e a previsão de geração de energia, e desenvolve soluções avançadas de armazenamento em baterias, essenciais para a consolidação de fontes intermitentes como a solar e a eólica.

Nesse contexto, a manutenção de subsídios para veículos a combustão até 2032 é tratada por analistas como um incentivo ao atraso. O texto da reforma, da forma como foi colocado, “não só manterá incentivos para carros exclusivamente a combustão, desestimulando o desenvolvimento de energias mais limpas (elétricos a bateria, híbridos, híbridos plug-in e hidrogênio), como também perpetua o desequilíbrio” no setor.

A anti-campanha na internet, portanto, ignora o cerne da questão tecnológica. O financiamento a uma fábrica de veículos elétricos não representa uma "traição", mas um alinhamento com uma tendência global irreversível. A verdadeira traição ao desenvolvimento nacional seria insistir em um modelo industrial do passado, enquanto o resto do mundo acelera em direção a um futuro mais limpo e tecnologicamente avançado.

Com informações de: InsideEVs Brasil, A Voz da Indústria, DW. ■